quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Carta para os homens de minha vida - Parte 1 - Pai

Oi, pai. Tudo bem?

Você vai me responder como sempre: "não mas tudo bem". Somos muitíssimo parecidos, eu fico bem assustada as vezes. Eu tenho certeza que meu humor ácido vem de você, a minha melancolia é muito parecida com a sua porque vêm de uma auto estima baixa também muito igual mas eu também sei que meu gosto por leitura, por escrita, por aprendizado, por cultura, arte, música e politica é todo em sua inspiração e ensinamento.
Eu sou você nessa nova era, provavelmente né?

Amar e não decepcionar: é sobre isso que quero lhe falar. 
Você sabe muito bem sobre o que eu quero dizer mas eu vou falar de um todo porque infelizmente estou com medo de ser mais uma decepção para você carregar.

O amor é sentimento forte, né? Ele toma a gente de uma maneira grandiosa, aperta o coração, toma a nossa mente, vira cuidado do nosso dia-a-dia. Pois é, só que ele é tão forte que de primeiro momento a gente começa a acreditar em perfeição e aí que a decepção entra. Se decepcionar não está ligado a amar e sim criar enormes expectativas. Além do mais, o amor pelo o outro deve vir em segundo lugar mas é sentimento tão grande, tão pomposo e quente, que esquecemos de nós mesmos.

Quando a gente ama, espera reciprocidade, atenção, divisão, tempo, carinho, toque, palavra. Só que até a gente aprender que isso vem primeiro de si mesmo, dói. Dói muito porque no começo é dor que engana, machuca que a gente vê sangrar e acha bonito. Depois dói na carne, dói por dentro. Dói de formar cicatriz. Tem que curar para enxergar.

Eu tô precisando me curar, pai. Eu amo muito você e também amo a minha mãe. Eu não posso amar menos um e mais outro. Eu não amo diferente, eu amo tanto que chega dói. E ta doendo muito mesmo, além do que eu tô podendo aguentar. E eu me pego perguntando para mim mesma se estou sendo egoísta em pensar em mim. Talvez eu esteja sendo absurdamente, só que como eu posso tentar ajudar se eu estou caída no chão? E eu nem sei se estou caída mesmo, ás vezes, sabe? Eu não consigo saber se estou sendo fraca ou se realmente estou afogada numa história que não é minha. Eu só consigo pensar nisso todos os dias da minha vida e está exaustivo demais. 

Eu me pego sentindo medo de voltar para casa. Eu não consigo me sentir confortável, como se não conseguisse realmente descansar. Tá sempre pesado, eu tô sempre pisando devagar para não fazer barulho. Tá sempre muito frio também, por fora e por dentro (de mim) quando estou em casa. Eu não tenho vontade de levantar, eu não tenho vontade de me vestir como quero, eu tenho medo de ficar a vontade, eu me sinto desconfortável no meu próprio quarto. 

Tô me sentindo presa nesse casulo que vocês criaram para vocês. Tô cansada de sentir frio, eu quero sentir um pouco de calor e vontade de viver. Poder ter liberdade e privacidade. Ser adulta e poder seguir pelo menos um pouco. E eu te peço para seguir essa comigo.

Me desculpe infinitamente por isso. Não entenda como se eu estivesse desistindo porque é ao contrário. Sei que se ficarmos nesse lugar frio e sem amor, vamos adoecer. Eu sei porque somos iguais, lembra?
Eu não vou me afastar, eu só preciso cuidar de mim um pouco. Por favor, não me entenda mal. 

Você sempre me disse para não ficarmos parados enquanto houvesse dor e doença. Que é preciso nos mexer, esquecer a dor, ocupar nossa cabeça em outro destino para que isso seja só um momento. E eu lhe convido a fazer isso com essa dor que nos atormenta há tanto tempo.

Desculpe.
Desculpe de verdade.
Nada que eu disser irá diminuir sua dor mas espero que você um dia possa me entender e me perdoar. 

Te amo muito, muito, muito. Além do que você pode imaginar. 

Então confia em mim. 

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